Conversão e remissão dos pecados

No deserto, João Batista pregava um batismo de conversão para remissão dos pecados (Mc 1,4). A conversão sempre foi, através dos tempos, proclamada pela Igreja. Este tema é vivido de modo especial no Advento na alheta do Precursor. A mensagem deste personagem que preparou os caminhos de Jesus centralizou-se na premência de uma mudança de vida expressa no ritual do batismo de penitência por ele ministrado no rio Jordão.

Cristo instituiria o sacramento do batismo o qual infunde o Espírito Santo e coloca quem o recebe em estado permanente de conversão, ou seja, numa trajetória de mudança contínua rumo à perfeição. Inserido na comunidade cristã, o discípulo de Jesus deve ostentar um modo de ser e de viver eclesial de tal forma que não apenas se torna “sal da terra e luz do mudo” (Mt 5,13.14), mas ainda concretiza sua existência no amor a Deus e ao próximo, crescendo dentro da Igreja que lhe oferece todos os meios necessários para a própria santificação, fazendo florir a grandeza espiritual do Corpo Místico, cuja cabeça é o próprio Redentor.

A Igreja que congrega os batizados é também então o Povo de Deus a caminho da Casa do Pai, chamando cada um de seus membros a viverem numa aliança divina. A conversão inclui, portanto, o desprendimento de tudo que impede o crescimento na graça santificante outorgada na pia batismal. O cristão caminha deste modo para aquele amadurecimento de que fala São Paulo: “Até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo (Ef 4,13).

Isto significa proclamar com os próprios atos uma proposta de vida que difere inteiramente o espírito do mundo do pecado. Trata-se da promoção do Reino de Deus através dos valores contidos no Evangelho e, dentro dos limites humanos, o cristão se coloca numa marcha ascensional, vencendo galhardamente as aliciações do mal e se purificando dia a dia. É a renovação cotidiana no Espírito se assemelhando sem cessar a Jesus, como ocorreu com o citado Apóstolo: “Já não sou eu quem vive é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20).

O progresso individual contagia os irmãos na fé, abrindo-lhes novas possibilidades de correspondência às inspirações do Espírito Santo. É que o comportamento de cada um com seus matizes próprios faz a beleza das diversas comunidades e, no seu conjunto, de toda a Igreja. Desta maneira, fica superado o mero individualismo com a complementaridade dos caminhos de cada um com o caminho dos outros, nesta trajetória até se chegar à comunhão trinitária lá na eternidade feliz. Por tudo isto, enorme a responsabilidade do cristão, pois a melhoria de vida deve abarcar todos os seus pensamentos, todas as suas atitudes, palavras, intenções sob pena de comprometer sua salvação eterna e a do próximo.

Não basta a busca da libertação do sentimento de culpa e uma prática religiosa rotineira sem uma ascensão perseverante numa conversão real, concreta, longe de qualquer comprometimento com o que não se coaduna com os ensinamentos do Mestre divino. Quem, em si e comunitariamente, vai assumindo os aspectos próprios dos renascidos do Espírito na busca de um aprimoramento frutuoso se torna apto para transmitir, tanto a cada pessoa uma orientação ou reorientação existencial, quanto aos diversos setores da sociedade, uma ajuda eficaz para discernir e secundar o plano salvífico de Deus através de uma ação eficaz no mundo. Eis por que ao se aproximar o Natal os cristãos são chamados a fazerem um exame de consciência no que tange ao seu progresso espiritual e de sua real influência no meio em que vive. Quem não se sente impelido a promover esta renovação obstaculiza o avanço positivo do bem no mundo e deslustra toda a comunidade eclesial.

É assim que a comunidade cristã convertida pode continuar construindo a história da salvação, envolvendo, efetivamente, todos os seres humanos. Isto supõe que se afastem corajosamente as acomodações arbitrárias e qualquer fator de deterioração num empenho corajoso para a erradicação não apenas dos grandes desvios éticos, das horripilas imoralidades, da indesejável corrupção política, mas ainda tudo que impede nas mais pequeninas atitudes a fraternidade, a justiça, a paz, a alegria, a felicidade própria e dos outros.

Nesta sublime tarefa um dos desafios é cada um propiciar um estilo de existência que, em linha de verdadeira conversão, supere o egoísmo, o comodismo, o individualismo numa adesão completa a Deus e no comprometimento com o bem social, cada um lá onde Deus o colocou nas tarefas no lar, no ambiente de trabalho, nos momentos de lazer, nas múltiplas atividades de apostolado nas diversas pastorais. Advento é o tempo de se potencializar formas de vida que garantam o autêntico serviço da Igreja para que se realiza de fato uma sociedade renovada pelo espírito do Natal que se aproxima.

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