Espiritualidade 03: “Tu és a alegria do Senhor teu Deus” (Is 62,5)

Que verdade maravilhosa esta que o Profeta Isaias nos comunica: somos a alegria de Deus.

O grande Padre da Igreja Santo Irineu já tinha dito por volta do ano 160, que “o homem é a glória de Deus”. Esta criatura tão frágil e tão grande é a glória e a alegria do Todo – Poderoso.

Mas como podemos ter certeza disso? Será que somos mesmo tão importantes para Deus? Será que a nossa existência pode mesmo afetar a sua alegria?

Sim, é a resposta. Vamos meditar.

São diz na Carta aos Efésios “que do alto do céu o Pai nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo e nos escolheu Nele antes da criação do mundo” (Ef 1, 3).

Então, não viemos ao mundo por acaso, não, o Senhor “nos desejou desde antes da criação do mundo”, e, sem violentar a liberdade de nossos pais terrenos, nos deu a vida. Deus é o grande “amigo da Vida”, e se rejubila quando uma criança nasce, porque é mais uma criatura gerada à sua imagem e semelhança que vem a este mundo para enriquece-lo. Lamentavelmente perdemos esta percepção.

O que mais vale no mundo é a vida; nada tem tanto valor como uma criança; é por isso que a Igreja costuma dizer que o sorriso de uma criança veio do céu. Aqui a gente entende porque a Igreja não quer um controle irracional da natalidade como acontece hoje, onde a maioria dos países já não consegue repor a população, e por isso, começa a diminuir os seus habitantes. É a desvalorização da vida.

Disse Henry Daniel Rops, um dos maiores historiadores católicos do século XX, que “um povo que não quer mais se reproduzir é um povo doente”. É verdade, se a civilização despreza o maior valor, a vida, se tem medo dela, então, há algo de muito errado com esta civilização que já não está mais disposta a defender o que há de mais sagrado. A frase que João Paulo II mais repetiu aos casais no Jubileu do Ano 2000 foi esta: “Não tenham medo da vida!”

São Paulo continua a nos dizer na Carta aos Efésios que: “No seu amor nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade” (v. 5). Somos filhos de Deus e somos de fato, diz também S. João: “Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato” (1Jo 3,1). Ora, qual é a grande alegria dos pais; não são os seus filhos? Então, o Profeta Isaías está certo: “Tu és a alegria do teu Deus”.

Cada um de nós, tão pequenino, toca o Coração de Deus. São Paulo ainda disse aos efésios que fomos criados “para celebrar a glória de Deus”: “Nele é que fomos escolhidos, predestinados segundo o desígnio daquele que tudo realiza por um ato deliberado de sua vontade, “para servirmos à celebração de sua glória” (v. 11-12)”.

Era exatamente isto que Santo Irineu queria dizer ao falar que “o homem é a glória de Deus”.

A vida do homem “celebra a glória de Deus” porque é a sua mais bela criatura visível; nada se lhe compara. A ninguém o Senhor deu inteligência, liberdade, vontade, consciência, capacidade de amar, de cantar, de sorrir e de chorar… A ninguém ele deu poder de voar nos altos dos céus, de construir as belas catedrais, de tocar o chão da lua, de perscrutar as estrelas… O salmista já rezava admirado:
“Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles? Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o coroastes. Destes-lhe poder sobre as obras de vossas mãos, vós lhe submetestes todo o universo”. Sl (8, 5- 6)

Fomos criados por amor, como filhos amados, para reinar neste mundo em nome do Criador, e dar-lhe honra e glória pelo que somos e fazemos. Não podemos viver uma vida pequena, mesquinha, desvalorizada, desprezada, simplesmente porque o Criador não nos fez para isso. Ele nos quer grandes, por dentro, não por fora.

São Paulo ainda repete uma vez mais aos efésios, que Ele nos “adquiriu para o louvor da sua glória” (v. 14). A beata Elizabeth da Trindade fez dessa verdade o lema de sua vida e assim se santificou. Ele fez de cada instante de sua vida, no Carmelo, um ato de louvor a Deus.

Quando a humanidade experimentou o sabor horrendo do pecado, e em conseqüência, o sabor amargo da morte, Cristo se prontificou a se oferecer pelo nosso resgate das mãos cruéis do demônio. São Pedro explica como ninguém: “Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo”. (1 Pe 1, 18,19)

Fomos criados pelo amor e pelo poder de Deus e fomos resgatados da morte pelo amor de Deus, porque somos filhos de Deus. Isto é, Deus fez por nós o que cada um está disposto a fazer pelo seu próprio filho.

“Tu és a alegria do Senhor teu Deus” (Is 62,5)

Esta é a razão pela qual Jesus deseja ardentemente ser recebido em nosso coração, na Comunhão sacramental ou mesmo na espiritual, muitas vezes durante o dia. Os santos experimentaram fortemente o quanto Jesus ama vir ao nosso coração. A explicação é esta: nós somos o amor da sua vida! A prova disso é que Ele a sacrificou por nós. Ninguém morre por alguém que não ama. E o que o amado mais deseja é estar junto, em comunhão, com a sua amada. A nossa alma é esposa do Altíssimo. Santa Teresinha do Menino Jesus disse que Jesus não desceu do Céu na Eucaristia para ficar numa âmbula de ouro, mas para viver em nosso coração. Ele é o refúgio do Coração de Jesus; ele é o travesseiro onde Ele pode reclinar a sua cabeça. Daí a importância de Comungar com freqüência e com devoção, oferecendo ao Amado o amor da sua amada. Não se esqueça jamais: “Tu és a alegria do Senhor teu Deus” (Is 62,5)

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