“O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo” (Mt 13,44)

A temática do Reino dos Céus ocupa o centro da pregação e do ministério de Jesus. O Mestre de Nazaré veio ao mundo para abrir à humanidade o caminho que conduz ao Reino. A esperança política de retorno da monarquia e a crença judaica de que Deus iria restaurar a nação de Israel foram, sob o influxo da palavra e da ação de muitos profetas, gradativamente substituídas por um conceito espiritualizado de Reino, sobretudo após o Exílio na Babilônia. Todavia, mudança radical de compreensão se deu a partir dos ensinamentos de Jesus.

Apesar de Jesus ter apresentado o Reino em sua dimensão universal – que se manifestará no fim dos tempos, no dia do Juízo Final, quando tudo se consumará em uma nova Terra e um novo Céu, onde os justos viverão em Deus, com Deus e junto de Deus – atenção maior ganhou em suas palavras a dimensão pessoal do Reino. Aqui o Reino de Deus ganha caráter espiritual, moral, mental ou psicológico, ou seja, todos os que estão na graça de Deus e que seguem verdadeiramente a vontade de Deus e os ensinamentos e exemplo de Jesus Cristo participam do Reino.

O Reino de Deus, destinado a todos os seres humanos, foi anunciado por João Batista, que exortou as pessoas ao arrependimento, mas foi inaugurado na terra por Cristo. Ele instruiu os seus apóstolos a pregarem a proximidade do Reino. Em suas parábolas, Jesus convida todas as pessoas a entrar no Reino de Deus para conhecer os seus mistérios. Nesse sentido, o Reino é uma realidade “escondida” na vida de muitos. Curiosamente, a presença do Reino neste mundo está secretamente no coração das parábolas ensinadas por Jesus. Tornar-se discípulo de Jesus significa conhecer os mistérios do Reino dos Céus. Para os que ficam “de fora”, tudo permanece enigmático, mas para os íntimos de Jesus, seus discípulos, tudo se torna mais claro e evidente.

Todas as pessoas que querem pertencer ao Reino de Deus precisam converter-se. Quando alguém descobre que pisa “terreno” falso e infértil não pode permanecer no mesmo lugar. A tomada de consciência de que está em “terra” improdutiva leva a pessoa ao deslocamento existencial, quando, num ato de fé e coragem, sai de uma situação de vida para entrar em outra de maior valor. Na parábola do tesouro escondido no campo, a conversão alcança a radicalidade de quem é capaz de vender todos os bens para a compra do terreno que esconde o tesouro encontrado. Entrar no Reino significa, então, fazer rupturas, desbravar caminhos, desprender-se de coisas velhas, aventurar-se em águas mais profundas, abraçar o desconhecido, desprezar o supérfluo e apegar-se ao essencial.

Não obstante seu caráter subjetivo e espiritual, o Reino de Deus está misteriosamente presente na Igreja e manifesta-se nela, de forma sacramental, na liturgia e no apostolado. A obra evangelizadora da Igreja acelera a união de todas as pessoas pela fé em Jesus Cristo e antecipa a realização final do Reino. O Reino de Deus é compreendido também como o Projeto Criador de Deus, do qual são os seres humanos convidados a colaborar como parceiros, de modo livre e responsável. A pressa de quem vende tudo para adquirir o verdadeiro tesouro expressa a urgência da missão e a capacidade que têm os humanos de acelerar e antecipar, com sua fé em Jesus Cristo e com suas obras de amor e serviço, a vinda definitiva do Reino Deus.

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