Pe. Frei Seraphim Pecci – Músico de Deus

Entre 1909 e 1925, um italiano da província de Salerno, nascido a 19/8/1867, foi o Vigário de Viçosa. Vindo de Pirapitinga, nomeado pelo bispo (depois arcebispo) Dom Silvério Gomes Pimenta, Pe. Frei Seraphim Pecci era aquele que fazia com que do interior da extinta Igreja Matriz espargissem maviosas sonoridades. Notabilizou-se por ser um clérigo que criava divinal musicalidade, seja compondo, ou como solista, ou ensinando ou incentivando o povo de Deus a cantar e a se organizar em conjuntos orquestrais e bandas musicais. Um som celestial – diziam seus contemporâneos – provinha no Coro Paroquial e de sua residência, na antiga Rua do Cruzeiro (via que tem agora o seu nome) quando ele ali estava, a dedilhar, entre os sobrinhos Fiori e Felício Brandi, as teclas de um imponente harmônio ou de seu piano.

Das realizações de seu paroquiato, ressalte-se uma especial. Em 1912 surgiu no município, a Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), que obteria a sua Carta de Agregação, isto é, sua filiação ao Conselho Geral de Paris em 1926, com 32 fundadores, já no paroquiato de seu sucessor imediato, Pe. Álvaro Corrêa Borges. Prestou serviços religiosos, em seus derradeiros dias, também à cidade mineira de Mar de Espanha, a partir de 1928. Seu falecimento se deu a 29/3/1931, tendo sido sepultado em belíssimo mausoléu, na atual quadra 2 do Cemitério Dom Viçoso, em Viçosa. E foi também durante seu profícuo paroquiato que as seguidoras de Madre Maria das Neves (Rita de Cássia Aguiar) aqui aportaram: as Carmelitas da Divina Providência.

O notável poeta e jornalista José Pinto Coelho trouxe-nos, em magistral descrição, Frei Seraphim, para ele uma figura realmente “esbelta e impressionante”. É ele quem assim o descreve: “O melhor sorriso e vago sotaque de italiano… longa e bem tratada, a barba, preta como a sua batina, sereno olhar de investigador dos mistérios da vida… ar nobre e, ao mesmo tempo, simples, a passar uma das mãos sobre a outra, os olhos vivos a fixar-me, a dizer-me boas e imerecidas palavras de acolhimento. Com os seus sessenta e três anos, demonstrava o entusiasmo e o ardor de um jovem, contava episódios de sua vida, relembrava os amigos que deixou em Viçosa e acabava por dizer: – ‘Mas a vida é curta, meu amigo…’ Sobre música dizia que ela era, para o seu espírito, um documento. Admirava os que compunham idéias musicais. Distinguia o vocalista do instrumentista. A voz humana – acrescentava – define e interpreta, melhor que todos os acordes, a carícia e o grito, a dor e o amor, a cólera e a ternura… cantor e músico de Deus. Figura imperecível… Quem o conheceu e com ele teve a ventura de privar, há de convir em que o amável franciscano materializava em ação aquelas doces palavras do Mestre, recolhidas por São Mateus: ‘O meu jugo é suave e o meu fardo, leve’. Assim o sentíamos os que aqui labutávamos sob a direção espiritual daquele sacerdote, respeitado como Pastor e querido como pai… Tinha, com a sua proverbial cortesia, o dom de subjugar as inteligências e aprisionar os corações, confirmando o pensamento de Lacordaire de que ‘a verdade magnetiza a mente e a beleza da vida mergulha até a alma’.

Como os grandes discípulos do ‘poverello’ de Assis, fez da cruz um fardo leve e motivo da mais justa e avassaladora alegria… Apaixonado pela música, que cultivava como um mestre, ele soube comunicar, dentro dos limites da arte digna do templo sagrado, o ardor da própria alma dos que o cercavam.”

À época do Pe. Seraphim, Viçosa tinha apenas três templos: a Matriz de Santa Rita, a Igreja do Rosário e a Capela dos Passos. E antes da chegada da SSVP, eram associações religiosas o Apostolado da Oração e as Damas do Sagrado Coração. Em 1916 – informam-nos historiadores – era de 40 a média anual de casamentos, 80 de catequizandos e 270 de batizados. Admiradores convencidos de suas virtudes e méritos, os viçosenses reconheciam-no “um sábio”, um “pároco modelar”, por suas “maneiras altamente distintas” e pelo seu “inexcedível zelo no tratar das cousas religiosas”, revela-nos documento de 9 de janeiro de 1925, quando este padre de vida e nome angélicos se mudou novamente para a Itália.

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