Jesus, o Emanuel

O anjo, enviado por Deus, explicou a São José que Maria concebeu pela ação do Espírito Santo e lhe deu esta ordem: “Tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21). São Mateus decodificou esta mensagem, mostrando o que dissera o Profeta Isaías: “Ele será chamado de Emanuel, que significa: Deus conosco” (Is 7,14).

Há, deste modo, uma união profunda entre o mistério da salvação operada pelo Salvador e a aproximação de Deus ao homem através dele. Lemos no Livro do Gênesis: “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gên 2,7). Cristo toma o barro da pobreza e do pecado humanos para remodelar um homem novo, com Espírito novo. Eis a chave do mistério soteriológico.

Trata-se do admirável intercâmbio pelo qual Deus comunica ao ser humano, gratuitamente, o que é seu e assume sobre si o que é humano para metamorfoseá-lo. Eis porque Jesus é o Emanuel, o Deus conosco. Nesta intercomunhão reside o início do processo salvífico: “O Verbo de Deus de fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Jesus entra na história do mal da humanidade para carregá-la e sofrer na própria carne, assumindo toda a desgraça causada pelo pecado no Paraíso Terrestre. Ele é a “imagem de Deus invisível” e “primogênito dos redivivos” (Col 1, 15. 18).

Explica São Paulo que aprouve a Deus “por seu intermédio, reconciliar consigo todas as coisas, quer na terra, quer no céu, estabelecendo a paz pelo sangue de sua cruz” (Col 1,20). Cabe ao ser racional abrir-se inteiramente ao mistério de Jesus e se inserir na presença deste Deus que quis entrar na história e estar junto dos redimidos pelo seu Filho. É um processo existencial que precisa abarcar a pessoa toda e repercutir em todos os âmbitos da vida de quem busca e acata o Redentor e todos os frutos de sua permanência entre os homens.

Donde uma profunda comunhão com Ele, uma intimidade com o Deus conosco. Isto compromete o verdadeiro cristão que deve viver com aquele a quem confessa, participando nesta realidade gloriosa que foi a encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Daí a participação em seus sofrimentos, configurando-se cada um com sua morte a fim de alcançar a ressurreição e glória eterna.

A vivência cristã é, exatamente, vincular-se com aquilo que Jesus manifesta e ao que ele mesmo se vincula. Por isso o Natal deve levar, em primeiro lugar, à união com Deus e, simultaneamente, ao comprometimento total às promessas batismais. Apenas assim, O Emanuel será para cada um aquele que disse: “Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos”, alguém vivo, que quer dar a vida de Deus a todo aquele que O aceita.

Este encontro se dá na fé, pois somente por ela Jesus se faz contemporâneo daquele que crê, o Emanuel. Então todos os anseios, todas as expectativas, todos os problemas do ser humano são satisfeitos. A resposta e os dons de Deus são o sinal palpável desta presença admirável do Redentor. Eis por que os episódios da vida de Jesus, como o Natal, trazem as graças específicas dos acontecimentos recordados, mas devem, outrossim, lembrar também esta permanência constante do Redentor junto daquele que O acata, como aconteceu com Maria.

Esta auto-doação de Deus pela resposta de fé da parte daquele que acredita tem poder transformador com resultados formidáveis para a espiritualização de cada um. Dá-se um autêntico intercâmbio de amor com o Emanuel que conduz ao Pai e inebria nos dons, carismas e frutos do Espírito Santo. Não se trata, desta maneira, de se contemplar em Jesus apenas o mero sentido de exemplaridade proveniente de sua figura do passado que nos impressiona tanto, mas ainda senti-lo presente hoje num contato vivo sacramental com Ele.

A certeza de que Jesus é o Emanuel não pode consistir apenas na impressão exterior produzida por um mestre que com sua palavra ou com seu exemplo nos interpela e nos comove, mas por uma pessoa que chama, invade o seu seguidor e o incorpora a Ele. É o estar em Cristo, ou seja, Ele no cristão e o cristão nele. Realiza-se o tripé maravilhoso: viver, morrer um dia com Ele e com Ele ressuscitar para uma eternidade venturosa. Este contato com Cristo no Espírito Santo, no seio da Igreja, é a plenitude da vivência do fato dele ser o Deus conosco.

Desta forma, todo batizado se depara com Cristo vivo e verdadeiro, não com a projeção imaginária de seus próprios desejos e ilusões, mas na firmeza de uma certeza inabalável de uma transfiguração nele e por ele. A dinâmica natalina assim vivida, isenta de qualquer tentação de subjetividade e favorece a identificação progressiva com o Senhor, que é o Deus conosco.

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